Remexer

1986

Remexer
    • Remexer (Luiz Caldas / Carlinhos Brown) Letra

      Fugindo da dor

      Sentindo o calor

      Preparando um ritual

      No meio desse ti-ti-ti

      Levantando o astral

       

      Pintando essa cor

      Memória de amor

      Armando o maior lual

      E quem ver o céu pode crer

      Que não é nada normal

      E quem ver o céu pode crer

      Que não é nada normal

       

      Tem um mistério que a gente sempre quer saber

      Constelação de Orion

      Seu tom, seu batom no meu som

      Anormal (sensual)

      Transa legal, coisa e tal

      Anormal (sensual)

      Transa legal, coisa e tal

       

      Foi assim que eu vi você

      Remexer

      Foi assim que eu vi você

      Remexer

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e teclados Simons: Zé Américo Bastos

      Bateria Yamaha: Téo

      Contrabaixo: Sizão

      Violões: Zeppa Souza e Pipiu

      Percussão

      Congas: Repolho

      Bongô: Firmino

      Trompete: Nilton Rodrigues e Don

      Trombone: Moisés

      Sax tenor: Marcelo Neves

      Vocal: Jurema, Chico Pupo, Viviane, Pipiu, Nair Cândia, Betina, Tadeu Mathias e Zeppa Souza

    • Só se For a Dois (Rogério Meanda / Cazuza) Letra

      Aos gurus da Índia

      E aos judeus da Palestina

      Aos índios da América Latina

      E aos brancos da África do Sul

       

      O mundo é azul

      Qual é a cor do amor

      O meu sangue é negro

      Branco, amarelo e vermelho

       

      Aos pernambucanos

      E aos cubanos de Miami

      Aos americanos russos

      Armando os seus planos

       

      Ao povo da China

      E o que a história ensina

      Aos jogos, aos dados

      Que inventaram a humanidade

       

      As possibilidades de felicidade

      São egoístas meu amor

      Viver a liberdade

      Amar de verdade

      Só se for a dois

      É, só a dois

       

      Aos filhos de Gandhi

      Morrendo de fome

      Aos filhos de Cristo

      Cada vez mais ricos

       

      O beijo do soldado em sua namorada

      Seja pra onde for

      Depois da grande noite

      Vai esconder a cor das flores

      E mostrar a dor

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e teclados: Júlio Cesar

      Bateria Yamaha: Téo

      Contrabaixo: Décio

      Guitarra: Pisca

      Tumbadora: Geraldo Oliveira

      Tenor: José Carlos Machado

      Trompete: Marcio Montarroyos, Paulinho Martins e Alcebíades Spinola

      Sax barítono: Aurino de Oliveira

      Sax alto: Leo Gandelman

    • Sonho de Uma Noite de Verão (Dominguinhos / Jorge Mautner) Letra

      Você é tudo o que eu sonhei

      Meu coração

      Felicidade é ter você

      Você é um anjo, eu bem sei

      Que tem a luz

      Que me seduz

      Com o supremo dom do veneno

      No prazer

       

      Numa noite de verão

      Eu sonhei que voei no azul

      E que quase esbarrei

      Nas estrelas do Cruzeiro do Sul

       

      Na beleza da tristeza

      Refletida em seu olhar

      Aprendi a te reconhecer

      E até mesmo a te desconhecer

      Te perder e te reencontrar

      No labirinto de tudo o que sinto

       

      No sonho que cantando

      Vou tentando revelar

      No sonho que cantando

      Vou tentando revelar

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e Yamaha CP 70: Cesar Camargo Mariano

      Arranjo de cordas: Chiquinho de Moraes

      Contrabaixo acústico: Sandrino Santoro

      Violas: Frederick Stephany, Arlindo Penteado, Hindenburgo Pereira e Marie Springuel

      Violinos: Alfredo Vidal, José da Silva, Paschoal Perrotta, João Daltro, Walter Hack, Carlos Eduardo Hack, Michel Bessler, Aizik Geller, Bernardo Bessler, Francisco Perrotta e Luiz Carlos Marques

      Cellos: Alceu Reis, Luiz Fernando Zamith, Jorge Ranewsky e Marie Bernard

    • Odilê, Odilá (João Bosco / Martinho da Vila) Participação Especial: João Bosco Letra

      Odilê, Odilá

      Que que vem fazer aqui meu irmão

      Vim sambar

      Ôdilê, Ôdilá

      Que que vem fazer aqui meu irmão

      Vim sambar, oba

       

      Entra na corrente

      Corpo, mente

      Coração, pulmão

      Pra junto com a gente

      Viajar na energia-som

      Quem veio de longe atravessou raio e trovão

      Pra cair no samba e receber a vibração

       

      Com a negrada do Harlem

      Jesus Cristo também vem

      Pra sair do transe só com o sino de Belém

      Quem faz romaria e procissão samba também

      E quem tá com a gente

      Tá com o povo do além

       

      Quem samba se sobe tem combá, tem gurufim

      Teve um olho d’água e um sorriso de marfim

      Se volta beijada é pigmeu ou curumim

      Vira um preto velho

      Pra sambar com a gente assim

       

      Preta velha bate pé

      Bate colher, levanta pó

      Dá marafo pro Odilê que solta logo seu gogó

      Odilá de madrugada nem sem viola tá só

      Pois tá com axé da velha

      Nega preta sua avó

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e Yamaha CP 70: César Camargo Mariano

      Violão (Participação especial): João Bosco

      Contrabaixo: Nico Assumpção

      Percussão: Repolho

      Surdo e teclados (efeitos): Mazzola

      Vocal: Dinorá, Viviane, Karla dos Santos, Jussara Lourenço, Jurema Lourenço, Marcio Lott, Tufic e Copacabana

    • Boca do Balão (Moraes Moreira / Zeca Barreto / Fred Góes) Letra

      Na cidade grande

      Por mais que eu ande

      Ainda me espanto

      Quando ouço uma explosão

       

      Lá no interior sempre era São João

      Lá no interior sempre era São João

       

      Viva São João

      Meu carneirinho

      Como te esperei

      Ano inteirinho

       

      Ao pé da fogueira

      Madeira, velame

      Que o nosso amor inflame a noite inteira

      Na esteira ou no chão

      A gente se esquenta

      E arrebenta a boca do balão

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base, metais e teclados: Lincoln Olivetti

      Baixo: Fernandinho

      Metais: Marcio Montarroyos, Bidinho, Leo Gandelman e Zé Nogueira

      Percussão: Ariovaldo

      Surdo: Gordinho

      Pandeiro: Mazzola

      Castanhola: Chacal

      Acordeom: Dominguinhos

      Efeito de explosão: Barroso

    • Neném Mulher (Pinto do Acordeom) Letra

      Neném, neném, neném

      O que aconteceu?

      Tão todos te querendo

      Tu vem ficar mais eu

      Ó neném, neném, meu bem

      Me dá teu coração

      Que eu caso com você

      Nessa noite de verão

       

      Basta ver como estou

      Enjeitado, sem amor

      Vem depressa me abraçar

      E por toda vida

      Nunca mais nos separar

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo, DX-7 e acordeom: Zé Américo Bastos

      Bateria: Elber Bedaque

      Contrabaixo: Pipiu

      Guitarra: Zeppa Souza

      Percussão: Firmino

    • Chorando e Cantando (Geraldo Azevedo / Fausto Nilo) Letra

      Quando fevereiro chegar

      Saudade já não mata a gente

      A chama continua

      No ar

      O fogo vai deixar semente

      A gente ri, a gente chora

      Ai, ai, a gente chora

      Fazendo a noite parecer um dia

      Faz mais

      Depois faz acordar cantando

      Pra fazer e acontecer

      Verdades e mentiras

      Faz crer

      Faz desacreditar de tudo

      E depois

      Depois amor, ô, ô, ô, ô

       

      Ninguém, ninguém verá

      O que eu sonhei

      Só você, meu amor

      Ninguém verá o sonho

      Que eu sonhei

       

      Um sorriso quando acordar

      Pintado pelo sol nascente

      Eu vou te procurar

      Na luz

      De cada olhar mais diferente

      Tua chama me ilumina

      Me faz

      Virar um astro incandescente

      Teu amor faz cometer loucuras

      Faz mais

      Depois faz acordar chorando

      Pra fazer e acontecer

      Verdades e mentiras

      Faz crer

      Faz desacreditar de tudo

      E depois

      Depois amor, ô, ô, ô, ô

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo: Chiquinho de Moraes

      Bateria Yamaha: Téo

      Contrabaixo: Décio

      Guitarra: Ricardo Silveira

      DX-7 Mirage: Antônio Adolfo

      Sax: Paul Liberman

      Harmônica (Gaita de boca): Maurício Einhorn

      Violas: Frederick Stephany, Arlindo Penteado, Hindenburgo Pereira e Marie Christine

      Cellos: Alceu Reis, Luiz Fernando Zamith, Jorge Ranewsky e Marie Bernard

      Contrabaixo acústico: Sandrino Santoro

      Violinos: Giancarlo Pareschi (spalla), Alfredo Vidal, José da Silva, Paschoal Perrotta, João Daltro, Walter Hack, Carlos Eduardo Hack, Michel Bessler, Aizik Geller, Bernardo Bessler, Francisco Perrotta e Luiz Carlos Marques

    • Forró Temperado (Cecéu) Letra

      Cabra pra você entrar nesse forró

      Tem que pedir licença

      Tem que derramar suor

      Tem que ser cabra macho

      Ter um nó na goela

      Botar fogo na panela

      Queimar pra derreter

      Além de se mexer

      Ter sebo na canela

      Ser como uma arruela

      Quando a coisa arrochar

      Não vai desanimar

      Quando o forró esquenta

      Cabra que não aguenta

      Chama a mamãe pra mamar

       

      Mamar, mamar, mamar

      Cabra que não aguenta

      Chama a mamãe pra mamar

      Mamar, mamar, mamar

      Cabra que não aguenta

      Chama a mamãe pra mamar

       

      Aqui só entra mulher

      Aqui só entra homem

      Se o cabra não tem nome

      Não é homem pra entrar

      É na entrada que se mostra o documento

      Se você não tem talento

      Não pode furruriar

      Esse forró é temperado na pimenta

      Cabra que não aguenta

      Chama a mamãe pra mamar

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e DX-7: Zé Américo Bastos

      Bateria: Elber Bedaque

      Contrabaixo: Pipiu

      Guitarra: Zeppa Souza

      Percussão: Firmino

      Acordeom: Marquinho

      Sax tenor: Marcelo Neves

      Trombone: Moisés

      Trompete: Paulinho Martins

      Vocal: Marcio Lott, Ana Lúcia, Nair Cândia, Viviane, Jurema, Liliane, Jaime Alem, Chico Pupo e Paulo Valente

    • Vestido Suado (Tadeu Mathias) Letra

      Quando sei de um forró

      Eu me mando pra lá

      E descolo um moreno

      Que seja bom de dançar

      Uma flor no cabelo

      Um vestido de fita

      Um batom encarnado

      Que me faz mais bonita

       

      Quando sei de um forró

      Eu me mando pra lá

      Vou gastando a chinela

      Até o dia clarear

      Se é pertinho ou distante

      Eu não quero nem saber

      O que eu quero é forrozar

      Nos seus braços debruçar

      Hoje eu vou derreter

       

      E danço prum lado

      Me lanço pro outro

      É um salto quebrado

      Meu nego torto

      O vestido suado

      E o povo em coro

      A alegria na sala

      Não dá lugar pro choro

      O vestido suado

      E o povo em coro

      A alegria na sala

      Não dá lugar pro choro

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e DX-7: Zé Américo Bastos

      Bateria: Elber Bedaque

      Contrabaixo: Pipiu

      Guitarra: Zeppa Souza

      Percussão: Firmino

      Acordeom: Marquinho

      Sax tenor: Marcelo Neves

      Trombone: Moisés

      Trompete: Paulinho Martins

      Vocal: Marcio Lott, Ana Lúcia, Nair Cândia, Viviane, Jurema, Liliane, Jaime Alem, Chico Pupo e Paulo Valente

    • Sai da Frente (Gonzaguinha) Letra

      Mantenha a calma, a fé e a coragem

      E traga a alma pra rua

      Seja a alegria a guia

      Conquiste o brilho do sol e da lua

       

      A raça, a graça, a praça, a taça

      É tudo coisa nossa

      E seja na bossa

      Seja na troça

      Me aperte e vamo nessa, meu bem

       

      Coração

      O tambor

      O tesão

      Vai subir

      É amor

      É razão

      Sai da frente

      Que a gente quer ser feliz

      Quero mais

      Muito mais

      Muito mar

      Muita paz

      O prazer

      Muito mel dessa flor se abrindo

      No nosso país

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e Yamaha: Zé Américo Bastos

      Bateria: Elber Bedaque

      Contrabaixo: Pipiu

      Guitarra: Zeppa Souza

      Percussão: Firmino

      Repique: Trambique

      Tamborim: Ney, Pedro, Nelson e Vivaldo

      Sax tenor: Marcelo Neves

      Trombone: Moisés

      Trompete: Don

      Vocal: Fernando Adour, Chico Pupo, Viviane, Pipiu, Nair Cândia, Betina, Tadeu Mathias e Rosa Lobo

    • Caia na Real (Carlos Fernando / Eloísa Santos) Letra

      Caia por cima de mim

      Que esse frevo tá no tempo de arrepiar

      Deixa pra lá o que é ruim

      Bem juntinho de mim vamo rebentar

      A solidão, a extensão de um perigo nuclear

      O que é bom vai vingar

       

      Atrás da lua, na terra, no fundo do mar

      Aqui na rua o bloco vai gargalhar

      E a multidão cantando “Vai raiar”

      Caia por cima de mim

      Na hora H

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo e teclado: Lincoln Olivetti

      Contrabaixo: Fernandinho

      Surdo: Mazzola

      Sax alto: Leo Gandelman

      Tenor: José Carlos Machado

      Trompete: Alcides Spinola e Marcio Montarroyos

      Vocal: Fernando Adour, Chico Pupo, Viviane, Pipiu, Nair Cândia, Betina, Tadeu Mathias e Rosa Lobo

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Remexer é o oitavo LP de Elba Ramalho e o quinto produzido por Marco Aurélio da Silva, o indefectível Mazzola – que acompanha a cantora desde o sucesso de Bate coração. Gravado entre maio e junho deste ano, este novo disco de Elba dá prosseguimento à mistura de ritmos brasileiros que sempre caracterizou o seu trabalho. Tem deboche, forró, frevo, xote, baião, afoxé... enfim, motivos de sobra para remexer os esqueletos e corações de todo mortal que se preze.

Para falar deste trabalho, a nossa nordestinaturner escolheu ninguém menos que Jorge Mautner, o autor do (ir)radiante Maracatu atômico. E foi assim que o poeta visionário além-punk viu/ouviu o Remexer de Elba Ramalho.

 

Só se for a dois – Meanda/Cazuza

Canção político-existencial além-protesto. Prova da atualidade e da consciência de um engajamento não-dogmático, não-sectário, não-totalitário, desta dupla de gênios inquietos da nova geração de compositores. Viva a atualidade do Brasil-Universal-Moreno, afirmando sua negritude e condenando a África do Sul. E nota mais do que dez para a afirmação neo-anarquista-pacifista de que a contradição política nacional e mundial se resolve apenas... pelo amor... a dois! Elba aqui reflete sua experiência em ambas as matérias pela sua tradição de teatro político, é uma artista engajada enquanto suas lindas coxas a transformam em comichão sensual permanente de dengosa amorosidade. Só o amor de vênus-afrodite-iemanjá desta magnífica diva da paraíba-universal-pan-sexual é que poderá enfrentar os horrores do apartheid, dos assassinatos políticos e da devastação nuclear.

 

Remexer – Luiz Caldas/Carlinhos Brown

Lambada-afoxé além-caribeana de Luiz Caldas, com swing negro, mulato, cafuso, mameluco, negro, negro, negro do Brasil-Universal. Em forma de fricote, chicote, deboche! Este o ritmo do Brasil novo, da Nova República, da esperança, do otimismo! Maravilhoso o texto-conteúdo da letra: “Anormal... luau”. “Anormal” é a minoria aceita! E “luau” é a festa havaiana de todas as praias. De Itapoã a Copacabana. Todas as praias na festa da democracia multirracial brasileira! A voz de Elba e sua interpretação lembram os êxtases das cantoras do seu gênero-tipo: Carmen Miranda, Virgínia Lane, e as rumbeiras brasileiras – massa anônima do nosso povo dançarino!

 

Neném mulher – Pinto do Acordeom

É a vez da coisa do forró, manifestação mais do que nacional e quase sacro-profana que compete com o rock e todo o besteirol. O forró, assim como o pagode, é a prova mais do que viva da consciência emocional-total da nação: dengue, carinho, ternura, beijos infinitos sob o luar de verão. Dá vontade de casar com Elba para todo o sempre da eternidade. Através de Elba torna-se quase “real” o maior sonho humano, tema de todos os filmes, enredos, poemas, óperas, letras e telenovelas: o casamento! Viva Santo Antônio!

 

Boca do balão – Moraes Moreira/Zeca Barreto/Fred Góes

Aqui Moraes Moreira demonstra sua alegria interior, que reúne os arquétipos sentimentais do Brasil-continente-litoral-interior, norte-sul-leste-oeste-nordeste! Música saltitante para dançar ao lado da fogueira acesa de todas as paixões. Elba repete com charme e mistério, sacanagem e insinuante swing a frase que apaixonou o povo carioca e virou moda em todo o Brasil-Universal. Vamos “arrebentar a boca do balão” e emplacar o carnaval da Nova República, do cruzado e da reforma agrária! Viva, saravá, kolofé, amém, oxalá, evoé!

 

Sonho de uma noite de verão – Dominguinhos/Jorge Mautner

Aqui sou suspeito para falar. O grande responsável por este clássico dos clássicos, moderno-eterno, é o gênio de Dominguinhos. Ele fez a música de sopetão, registrando-a, num repente inspirado, ao gravador. A letra, eu coloquei depois. O título, “roubei” de Shakespeare. A voz de Elba aqui designa toda a tradição do cancioneiro nordestino. O velho e eterno-novíssimo romantismo das perdas e reencontros do amor-paixão encontra-se aqui perfeitamente recriado na esfuziante e emocionada interpretação do outro lado de Elba, o lado do seu coração de melão.

 

Forró temperado – Cecéu

Aqui a lembrança do coco e do gênio Jackson do Pandeiro se faz inevitável. O ritmo quente com que Elba impregna sua voz é um misto de remelexo carnavalesco fora do carnaval e malícia brejeira de ar inocente que encobre planos da mulher fatal. Santa e... ou... prostituta. Mas, na verdade, apenas mulher. Mulher do cangaço, mulher urbana, mulher suburbana, mulher sacana, mulher de Copacabana, mulher cotidiana, mulher que ama e ama e ama! Uma canção onde Elba dá conselhos com a sabedoria superior da mulher, da grande vênus-elba-afrodite-ramalho-iansã-iemanjá!

 

Odilê, Odilá – João Bosco/Martinho da Vila

Aqui temos a negritude mais uma vez proclamada em alto e bom som. A parceria é de dois sambistas que, além de reatualizarem a tradição gloriosa da negritude do Brasil-Universal, mergulham mais para trás, quase até os confins das raízes comuns da pátria-nação-emoção. A voz de Elba junta sua emoção numa corrente telepática, enfatizando a luta contra o racismo. E une misticamente as cidades mágicas de Belém, Jerusalém e Salvador. Isto é, o Brasil no universo. A canção do hino universal da alegria é o samba. Ou o antigo “zemba”, proibido como “subversivo” pelas autoridades imperiais.

 

Caia na real – Carlos Fernando/Heloísa Santos

Finalmente estamos no frevo. Já se disse que o frevo tem um “micróbio” que nos dá esta febre. O frevo é o frevo e não me atrevo a escrever sobre o frevo. Apenas dizer que este que nos pede para cair na real exibe a fantasia inebriante das ruas de Recife e Olinda na imaginação dos requebros e clarins e, ao mesmo tempo-espaço (ah!, alma pernambucana de Capiba e Miguel Arraes), o real real. Pernambuco é real, realista, adoro tal concreto. Isto dá à arte genial de Pernambuco todo um toque de “secura” de “enxuta espiritualidade e carnalidade” de João Cabral de Melo Neto... até o Caia na real.

 

Vestido suado – Tadeu Mathias

Mais um forró. Aqui a insinuação é a do suor, como fator de atração sexual. Elba dá novos conselhos, como uma deusa-pagã-cristã da parina universal! Os comentários são do Brasil real que espanta os antropólogos estrangeiros pela imensa alegria de seu povo “miserável”, mas que não para de sacudir as cadeiras, a cantar “o que eu quero é forrozar”... A alegria não cabe na sala do forró! O forró precisa conquistar a sala do Brasil todo! E nem aí dará!

 

Chorando e cantando – Geraldo Azevedo/Fausto Nilo

Novamente o tema de forrós-lamento e outros cantos e encantos nacionais, agora porém sofisticadamente triste. Elba nos faz viajar pelas fronteiras sutis e imprecisas do lusco-fusco das imagens que se alternam e alteiam como se fossem miragens de m deserto de amor!

 

Sai da frente – Gonzaga Jr.

Aqui, Gonzaginha afirma o novo gigantesco romantismo nacionalista não-xenófobo que há de dominar. Tomara Deus, Oxalá, os céus e mares e serras e terras da Nova República. Um beijo nos dois! “A razão é que a gente quer ser feliz”. No social, queremos mais, muito mais! Luxo para todos! Social-democracia-morena da Nova República para toda a eternidade!

 

Jorge Mautner


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