O Grande Encontro 3

2000

O Grande Encontro 3
    • Caravana (Geraldo Azevedo / Alceu Valença) cantam: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      Corra, não pare

      Não pense demais

      Repare essas velas no cais

      Que a vida é cigana

       

      É caravana

      É pedra de gelo ao sol

      Degelou teus olhos tão sós

      Num mar de água clara

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Cello: Lui Coimbra

      Flauta: Cesar Michilles

    • Táxi Lunar (Geraldo Azevedo / Zé Ramalho / Alceu Valença) cantam: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      Ela me deu o seu amor, eu tomei

      No dia dezesseis de maio, viajei

      De espaçonave atropelado, procurei

      O meu amor aperreado

       

      Apenas apanhei na beira-mar

      Um táxi pra estação lunar

      Apenas apanhei na beira-mar

      Um táxi pra estação lunar

       

      Bela linda criatura, bonita

      Nem menina, nem mulher

      Tem espelho no seu rosto de neve

      Nem menina, nem mulher

       

      Pela sua cabeleira, vermelha

      Pelos raios desse sol lilás

      Pelo fogo do seu corpo, centelha

      Belos raios desse sol

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

      Sax soprano: Cesar Michilles

    • Dona da Minha Cabeça (Geraldo Azevedo / Fausto Nilo) canta: Geraldo Azevedo Letra

      Dona da minha cabeça

      Ela vem como um carnaval

      Toda paixão recomeça

      Ela é bonita, é demais

       

      Não há um porto seguro

      Futuro também não há

      Mas faz tanta diferença

      Quando ela dança, dança

       

      Eu digo e ela não acredita

      Ela é bonita demais

      Eu digo e ela não acredita

      Ela é bonita, bonita

       

      Dona da minha cabeça

      Quero tanto lhe ver chegar

      Quero saciar minha sede

      Milhões de vezes, milhões de vezes

       

      Na força dessa beleza

      É que eu sinto firmeza e paz

      Por isso nunca desapareça

      Nunca me esqueça

      Que eu não esqueço jamais

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Geraldo Azevedo

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

      Sax soprano: Cesar Michilles

    • Canta Brasil (Alcyr Pires Vermelho / David Nasser) cantam: Geraldo Azevedo e Moraes Moreira Letra

      As selvas te deram das noites teus ritmos bárbaros

      E os negros trouxeram de longe reservas de pranto

      Os brancos falaram de amor em suas canções

      E dessa mistura de vozes nasceu o seu canto

       

      Brasil, minha voz enternecida

      Já dourou os teus brasões

      Na expressão mais comovida

      Das mais ardentes canções

       

      Também, na beleza desse céu

      Onde o azul é mais azul

      Na aquarela do Brasil

      Eu cantei de norte a sul

       

      Mas agora o teu cantar

      Meu Brasil quero escutar

      Nas preces da sertaneja

      Nas ondas do rio-mar

       

      Ô, esse rio turbilhão

      Entre selvas de rojão

      Continente a caminhar

       

      No céu, no mar, na terra

      Canta Brasil

      No céu, no mar, na terra

      Canta Brasil

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo e Moraes Moreira

    • Frisson (Tunai / Sergio Natureza) canta: Elba Ramalho Letra

      Meu coração pulou

      Você chegou, me deixou assim

      Com os pés fora do chão

      Pensei: que bom

      Parece, enfim, acordei

       

      Pra renovar meu ser

      Faltava mesmo chegar você

      Assim, sem me avisar

      E acelerar

      Um coração que já bate pouco

       

      De tanto procurar por outro

      Anda cansado

      Mas quando você está do lado

      Fica louco de satisfação

      Solidão nunca mais

       

      Você caiu do céu

      Um anjo lindo que apareceu

      Com olhos de cristal

      Enfeitiçou

      Eu nunca vi nada igual

       

      De repente

      Você surgiu na minha frente

      Luz cintilante

      Estrela em forma de gente

      Invasora do planeta amor

      Você me conquistou

       

      Me olha

      Me toca

      Me faz sentir

      Que é hora, agora

      Da gente ir

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Geraldo Azevedo

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man

      Flauta: Cesar Michilles

    • Lá e Cá (Lenine / Sergio Natureza) cantam: Elba Ramalho e Lenine Letra

      Mangueira, Ilê Ayê e viva o baticum

      Quando a Padre Miguel encontra com Olodum

      Caymmi com Noel, em Tom maior Jobim

      A Penha, a Candelária, o Senhor do Bonfim

       

      Irmão São Salvador e São Sebastião

      Tamborim, berimbau na marcação

      Pontal do Arpoador, final de Itapoã

      Meninos do Pelô, da Flor do Amanhã

       

      Diga aí, diga lá

      Você já foi à Bahia, nego? Não?

      Então vá, então vá

      Diga lá, diga aí

      Você já foi até o Rio, nega? Não?

      Tem que ir, tem que ir

       

      Rocinha faz parelha lá com Curuzu

      Centelha, luz, axé que vem do fundo azul

      Do céu, do mar, de Maré até Maricá

      No reino de água e sal de mãe Iemanjá

       

      É tanta coisa afim, tanto lá como cá

      Tem Barras, Piedades e Jardim de Alah

      São trios e afoxés, blocos de empolgação

      De arranco, negro e branco, tudo de rodão

       

      João, Benjor, Cartola

      Da Viola, Gil, Velô

      Coquejo, Alcyvando

      Chico, Ciro, Osmar, Dodô

       

      Geraldos e Ederaldos

      Elton, Candeia e Xangô

      Rufino, Aldir, Patinhas

      Da Vila, Ismael, Melô

       

      Monsueto e Batatinha

      Silas, Ciata e Sinhô

      Salve Mãe Menininha

      Clementina voz da cor

       

      Alô Carlos Cachaça

      Pedra Noventa falou

      Valeu Rio e Bahia

      Simpatia é quase amor

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Lenine

      Percussão: Paulinho He-Man

    • A Peleja do Diabo com o Dono Do Céu (Zé Ramalho) canta: Zé Ramalho Letra

      Mas com tanto dinheiro girando no mundo

      Quem tem pede muito

      Quem não tem, pede mais

      Cobiçam a terra e toda riqueza

      Do reino dos homens e dos animais

       

      Cobiçam até a planície dos sonhos

      Lugares eternos para descansar

      A terra do verde que foi prometido

      Até que se cansem de tanto esperar

      Que eu não vim de longe para me enganar

      Que eu não vim de longe para me enganar

      Que eu não vim de longe para me enganar

       

      Mas o templo do homem, a mulher e o filho

      O gado novilho urra no cural

      Vaqueiros que tangem a humanidade

      Em cada cidade, em cada capital

       

      Em cada pessoa de procedimento

      Em cada lamento palavras de sal

      A nau que flutua no leito do rio

      Conduz a velhice, conduz a moral

      Assim como Deus, parabéns o mau

      Assim como Deus, parabéns o mau

      Assim como Deus, parabéns o mau

       

      Já que tudo depende da boa vontade

      É de caridade que eu quero falar

      É daquela esmola, da cuia tremendo

      Ou mato ou me rendo, é lei natural

       

      Do muro de cal espirrado de sangue

      De lama, de mangue, de rouge e batom

      O tom da conversa que ouço me criva

      De setas e faca e favos de mel

      É a peleja do diabo com o dono do céu

      É a peleja do diabo com o dono do céu

      Olha a peleja do diabo com o dono do céu

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Flauta: Cesar Michilles

    • Garoto de Aluguel (Taxi Boy) (Zé Ramalho) cantam: Zé Ramalho e Belchior Letra

      Baby

      Dê-me seu dinheiro que eu quero viver

      Dê-me seu relógio que eu quero saber

      Quanto tempo falta para eu lhe esquecer

      Quanto vale um homem para amar você

       

      Minha profissão é suja e vulgar

      Quero um pagamento para me deitar

      E junto com você estrangular meu riso

      Dê-me seu amor, dele não preciso

      Ô, ô, ô... ô, ô, ô... ô...

       

      Baby

      Nossa relação acaba-se assim

      Como um caramelo que chegasse ao fim

      Na boca vermelha de uma dama louca

      Pague meu dinheiro e vista sua roupa

       

      Deixe a porta aberta quando for saindo

      Você vai chorando e eu fico sorrindo

      Conte pras amigas que tudo foi mal

      Nada me preocupa de um marginal

      Ô, ô, ô... ô, ô, ô... ô...

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

    • Galope Rasante (Zé Ramalho) cantam: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      A sombra que me move

      Também me ilumina

      Me leve nos cabelos

      Me lave na piscina

       

      Em cada ponto claro

      Cometa que cai no mar

      Em cada cor diferente

      Que tente me clarear

       

      É noite que vai chegar

      É claro, é de manhã

      É moça e anciã

       

      O pelo do cavalo

      O vento pela crina

      O hábito no olho

      Veneno, lamparina

       

      Debaixo de sete quedas

      Querendo me levantar

      Debaixo de teu cabelo

      A fonte de se banhar

       

      É ouro que vai pingar

      Na prata do camelô

      É noite do meu amor

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

    • Você se Lembra (Geraldo Azevedo / Pipo Spera / Fausto Nilo) Música incidental: Solo da corda G. (J.S. Bach)
      canta: Elba Ramalho
      Letra

      Entre as estrelas do meu drama

      Você já foi meu anjo azul

      Chegamos num final feliz

      Na tela prateada da ilusão

       

      Na realidade, onde está você?

      Em que cidade você mora?

      Em que paisagem, em que país?

      Me diz em que lugar, cadê você?

       

      Você se lembra?

      Torrentes de paixão

      Ouvir nossa canção

      Sonhar em Casablanca

      E se perder no labirinto de outra história

       

      A caravana do deserto

      Atravessou meu coração

      E eu fui chorando por você

      Até os sete mares do sertão

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Cello: Lui Coimbra

    • Petrolina e Juazeiro (Jorge de Altinho) cantam: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      Na margem do São Francisco nasceu a beleza

      E a natureza ela conservou

      Jesus abençoou com sua mão divina

      Pra não morrer de saudade vou voltar pra Petrolina

      Jesus abençoou com sua mão divina

      Pra não morrer de saudade vou voltar pra Petrolina

       

      Do outro lado do rio tem uma cidade

      Que na minha mocidade eu visitava todo dia

      Atravessava a ponte, ai que alegria!

      Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia

      Atravessava a ponte, ai que alegria!

      Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia

       

      Hoje eu me lembro que no tempo de criança

      Esquisito era a carranca e o apito do trem

      Achava lindo quando a ponte levantava

      E o vapor passava num gostoso vai e vem

       

      Petrolina, Juazeiro, Juazeiro, Petrolina

      Todas duas eu acho uma coisa linda

      Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Geraldo Azevedo

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

      Flauta: Cesar Michilles

    • A Terceira Lâmina (Zé Ramalho) cantam: Elba Ramalho e Zé Ramalho Letra

      É aquela que fere

      Que virá mais tranquila

      Com a fome do povo

      Com pedaços da vida

      Como a dura semente

      Que se prende no fogo

      De toda multidão

       

      Acho bem mais

      Do que pedras na mão

      Dos que vivem calados

      Pendurados no tempo

      Esquecendo os momentos

      Na fundura do poço

      Na garganta do fosso

      Na voz de um cantador

       

      E virá como guerra

      A terceira mensagem

      Na cabeça do homem

      Aflição e coragem

      Afastado da terra

      Ele pensa na fera

      Que o começa a devorar

       

      Acho que os anos irão se passar

      Com aquela certeza

      Que teremos no olho

      Novamente a idéia

      De sairmos do poço

      Da garganta do fosso

      Na voz de um cantador

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Elba Ramalho e Zé Ramalho

      Cello: Lui Coimbra

    • Tum-Tum-Tum (Ari Monteiro / Cristóvão de Alencar) cantam: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      No tempo que eu era só

      Que não tinha amor nenhum

      Meu coração batia mansinho

      Tum, tum, tum

       

      Depois veio você

      O meu amor número um

      E o meu coração pois se a bater

      Tum, tum, tum, tum, tum, tum

       

      Mulata no coco

      (Oscar Barbosa / Geraldo Nunes)


      Olha o balanço das cadeira dela

      Olha o balanço das cadeira dela dá

      Olha o balanço das cadeira dela

      Fiz esse coco só pra ela balançar

       

      Quando eu gritei o coco

      A mulata se espalhou

      Com o chiado da sandália dela

      A poeira levantou

       

      A moçada lhe cobriu de palmas

      Ela em cena tornou a voltar

      Com satisfação voltei a cantar esse coco

      Que eu fiz só pra ela balançar

      FICHA TÉCNICA:

      Violões: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

      Flauta: Cesar Michilles

    • Eu Vou pra Lua (Ary Lobo / Luis de França) cantam: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho Letra

      Eu vou pra lua, eu vou morar lá

      Vou no meu Sputnik do Campo do Jiquiá

      Eu vou pra lua, mamãe eu vou morar lá

      Vou no meu Sputnik do Campo do Jiquiá

       

      Já estou enjoado aqui da terra

      Onde o povo a pulso faz regime

      A indústria, roubo, a fome e o crime

      Onde os preços aumentam todo dia

       

      O progresso daqui, a carestia

      Não adianta mais se fazer crítica

      Ninguém acredita na política

      Onde o povo só vive em agonia

       

      Lá não tem juventude transviada

      Os rapazes de lá não tem malícia

      Quando há casamento na polícia

      É a moça quem é sentenciada

       

      Por acaso a dona for casada

      Trair o marido a coisa é feia

      Ela pega dez anos de cadeia

      E o conquistador não sofre nada

       

      Na lua não tem nome abreviado

      IPSEP, IPASE, nem CASEP

      Nem IPEV, nem CPMF

      Nem há contrabando de mercadoria

       

      Lá não falta água, não falta energia

      Não falta hospital, não falta escola

      É fuzilado lá quem come bola

      E morre na rua quem faz anarquia

       

      O Canto da Ema

      (Alventino Cavalcanti / Aires Viana / João do Vale)


      A ema gemeu no tronco do Juremar

      A ema gemeu no tronco do Juremar

      Foi um sinal bem triste, morena

      Fiquei a imaginar

      Será que é o nosso amor, morena

      Que vai se acabar?

       

      Você bem sabe que a ema quando canta

      Vem trazendo no seu canto um bocado de azar

      Eu tenho medo pois acho que é muito cedo

      Muito cedo meu benzinho

      Pra esse amor acabar

       

      Vem morena, vem, vem, vem

      Me beijar, me beijar

      Dá um beijo, dá um beijo

      Pra esse medo

      Se acabar

      FICHA TÉCNICA:

      Violão: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Acordeom: Marcos Farias

      Percussão: Paulinho He-Man e Zé Gomes

      Cello: Lui Coimbra

      Flauta: Cesar Michilles

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O Grande e predestinado Encontro – nos palcos, nos discos e na vida – de Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho sintetizava toda a força e perenidade da música e da cultura nordestinas. No auge de suas respectivas carreiras individuais, os três artistas – representantes máximos da leva de nordestinos que migrou para o Sul, na primeira metade dos anos 70, para conquistar um lugar nacional na música brasileira – se unem mais uma vez com toda a carga de riqueza e musicalidade própria de quem cresceu ouvindo Jackson do Pandeiro e João do Vale – cantor e compositor não por acaso reverenciados neste CD O Grande Encontro 3 – e, claro, o seminal Luiz Gonzaga, base e começo de tudo.

O terceiro volume do vitorioso projeto resulta da gravação e um show único realizado pelo trio na casa carioca Garden Hall, em 5 de outubro. Quem esteve lá não esquece: a alquimia entre a paraibana Elba, o pernambucano Geraldo e o também paraibano Zé se fez presente desde o primeiro número. A vibração que acontecia no palco era sentida pela plateia, que a devolvia na forma de aplausos calorosos. O clima festivo foi captado pelo produtor do disco, o craque Guto Graça Mello, que transportou para o CD toda a magia, espontaneidade e musicalidade daquela noite inesquecível. Era, mais uma vez, a reafirmação da força de músicas que permanecem no imaginário popular – o público do show foi formado basicamente por fãs anônimos dos artistas – graças ao trabalho de resistência empreendido por Elba, Zé e Geraldo, ao longo desses anos, para dar prosseguimento ao trabalho de propagação da música nordestina iniciado pelo pioneiro Luiz Gonzaga nos anos 50.

O Grande Encontro 3 reúne o calor do palco do primeiro volume – também gravado ao vivo, em 1996 – com o requinte dos arranjos do segundo, registrado em estúdio em 1997. É, até agora, o melhor momento de uma série vitoriosa que nunca vende menos de 500 mil cópias a cada disco lançado. E vale ressaltar que, sem repetir músicas de um disco para o outro, o trio faz um valioso trabalho de atualização das produções autorais de Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, dois compositores donos de obras tão ricas quanto vastas e que não se resumem aos grandes hits colecionados ao longo da carreira. Há muita coisa boa a ser apresentada para gerações jovens que não testemunharam o aparecimento de Elba, Geraldo e Zé no cenário musical brasileiro.

Caravana, por exemplo. A música que abre o disco, com vibrante interpretação do trio, fez muito sucesso ao ser gravada por Geraldo em 1975 para a trilha sonora da novela Gabriela. E sempre foi hit certeiro nos shows, mas essa parceria de Alceu Valença e Geraldo Azevedo precisava de um registro coletivo em disco (Geraldo a regravou no retrospectivo Raízes e frutos). Da mesma forma que Táxi lunar, outra parceria de Alceu e Geraldo, esta acrescida da assinatura de Zé Ramalho. A música ganha o seu melhor registro na interpretação calorosa dos três artistas. Tanto Táxi lunar quanto Caravana já vinham sendo cantadas pelo trio desde o nascimento do projeto O Grande Encontro, mas nunca haviam entrado nos discos. Pois a dívida com o imenso público do grupo agora está selada.

O irretocável repertório de O Grande Encontro 3 foi dividido na gravação em solos, duetos com convidados de cada um dos artistas (ou duos formados pelo próprio revezamento do trio em cena) e trios. Geraldo Azevedo abre o seu set solo cantando Dona da minha cabeça, um de seus hits românticos, gravado por ele no disco De outra maneira, de 1986. Em seguida, Geraldo chama o seu convidado: o sempre renovado baiano Moraes Moreira. Juntos, cantam harmoniosamente o samba-exaltação Canta, Brasil, de Alcyr Pires Vermelho e David Nasser, joia lançada com grande sucesso por Francisco Alves em 1941.

Em seguida, é a vez de Elba assumir o palco sozinha. E ela interpreta Frisson, balada pop romântica que consagrou seu autor Tunai nos anos 80. Para depois chamar o pernambucano Lenine, que só agora ganha o merecido reconhecimento nacional, depois de 20 anos de batalha – para, juntos, cantarem Lá e cá, parceria de Lenine e Sérgio Natureza que celebra a conexão Rio-Bahia com os irresistíveis suingue e negritude de dois Estados. Depois do set de Elba, Zé Ramalho volta à cena para cantar A peleja do diabo com o dono do céu, música que deu título ao seu segundo LP, de 1979. É a deixa para Zé chamar ao palco o terceiro convidado do disco, um rapaz latino-americano que migrou para o rio com o talentoso Pessoal do Ceará: Belchior. Contemporâneo de Zé, Belchior canta com o colega e amigo Garoto de aluguel, outra música do segundo disco de Ramalho. Uma releitura pungente, que vai fazer o público (re)descobrir a música, ousada para a época ao retratar a questão da homossexualidade masculina.

Encerrados os sets individuais, o trio se reveza no palco. Galope rasante, por exemplo, música do terceiro disco de Zé Ramalho (A terceira lâmina), ganha interpretação em dueto com Zé e Geraldo. E vale abrir um parêntesis aqui para lembrar que foi com os dois que o projeto do encontro teve origem. Ao se unirem para o show Dueto, com fenomenal sucesso de público e crítica, Zé e Geraldo espalharam a semente do Grande Encontro, que hoje dá vigorosos frutos como a interpretação madura de Elba para Você se lembra, belíssima e nostálgica balada lançada por Geraldo Azevedo em Futuramérica, recente trabalho de estúdio. E o mesmo Geraldo se une à Elba para celebrar a viagem festiva de Petrolina-Juazeiro, música de Jorge de Altinho, um compositor que transita pelo forró (e os ritmos englobados sob o generoso rótulo) com muita propriedade. Um talento ainda não reconhecido pela mídia do Sul na medida do seu valor.

Elba e Zé terminam o bloco de duetos com a definitiva gravação de A terceira lâmina, faixa-título do terceiro disco de Zé, música impregnada do tom apocalíptico que caracteriza a obra do compositor. E vem, então, com o trio reunido novamente, a celebração de Jackson do Pandeiro e João do Vale – duas das matrizes de todo o repertório reunido neste disco. Tum, tum, tum, Mulata no coco, Eu vou pra lua e O canto da ema traduzem a festa rítmica que é a música nordestina. Uma festa alegre, às vezes maliciosa, mas que carrega também a profundidade e a densidade de um povo resistente. Que soube impor sua cultura, seu canto e seus costumes. Como Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, símbolos dessa cultura perpetuada neste grandioso encontro.

 

Mauro Ferreira

 

 

Como diz um dos versos da canção, “você se lembra... chegamos juntos, num final feliz...”. Aqui estamos nós, fechando essa trilogia de rara beleza. Poético-musical nordestina e brasileira, dentro de cada um de nós, que vivemos para acreditar. Zé Ramalho

 

Cantar com Zé Ramalho e Geraldinho é como deitar na cama e rolar. Tudo tem cheiro bom, tem suingue bom, tem uma emoção verdadeira! Somos 3 em 1. Somos cada um em todos, trazemos na alma o vértice da comunhão e da verdadeira amizade. Elba Ramalho

 

É um projeto que envolve gente, tempo, memória, movimento, relações, emoções, gerações, é uma celebração de todas essas coisas. No presente, do passado ao futuro, realismo de fé e esperança. A dança da vida eterna lembrança sublime herança canções e corações. Geraldo Azevedo

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