Ave de Prata

1979

Ave de Prata
    • Canta Coração (Geraldo Azevedo / Carlos Fernando) Letra

      Canta, canta, passarinho

      Canta, canta, miudinho

      Na palma da minha mão

       

      Quero ver você voando

      Quero ouvir você cantando

      Quero paz no coração

       

      Quero ver você voando

      Quero ouvir você cantando

      Na palma da minha mão

       

      Na palma da minha mão

      Tem os dedos, tem as linhas

      Que olhar cigano caminha

      Procurando alcançar

      A nau perdida, o trem que chega

      A nova dança, mata verde, esperança

      Em suas tranças vou voar

      Passarinho, vou voar

       

      Meu alegre coração

      É triste como um camelo

      É frágil que nem brinquedo

      É forte como leão

       

      É todo zelo, é todo amor, é desmantelo

      É querubim, é cão de fogo

      É Jesus Cristo, é Lampião

      Passarinho, eu vou voar

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base: Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

      Arranjo de cordas: Paulo Machado

      Violão: Geraldo Azevedo

      Viola 10 cordas: Zé Ramalho

      Guitarra: Robertinho de Recife

      Piano: Paulo Machado

      Baixo: Luis Alves

      Bateria e percussão: Chico Batera

      Coro: Amelinha, Lize Bravo, Mônica Schimidt, Cristina e Sheila

    • Não Sonho Mais (Chico Buarque de Hollanda) Letra

      Hoje eu sonhei contigo

      Tanta desdita

      Amor nem te digo

      Tanto castigo

      Que eu tava aflita de te contar

       

      Foi um sonho medonho

      Desses que às vezes a gente sonha

      E baba na fronha

      E se urina toda

      E quer sufocar

       

      Meu amor vi chegando

      Um trem de candango

      Formando um bando

      Mas que era um bando

      De orangotango pra te pegar

       

      Vinha nego humilhado

      Vinha morto-vivo

      Vinha flagelado de tudo que é lado

      Vinha um bom motivo pra te esfolar

       

      Quanto mais tu corria, mais tu ficava

      Mais atolava, mais te sujava

      Amor, tu fedia

      Empesteava o ar

       

      Tu que foi tão valente

      Chorou pra gente

      Pediu piedade, olha que maldade

      Me deu vontade de gargalhar

       

      Ao pé da ribanceira acabou-se a liça

      Escarrei-te inteira a tua carniça

      E tinha justiça nesse escarrar

       

      Te rasgamo a carcaça

      Descemo a ripa

      Viramo as tripa

      Comemo os ovo

      Ai, aquele povo pôs-se a cantar

       

      Foi um sonho medonho

      Desses que às vezes a gente sonha

      E baba na fronha e se urina toda

      E já não tem paz

       

      Pois eu sonhei contigo e caí da cama

      Ai, amor, não briga

      Ai, não me castiga

      Ai, diz que me ama

      E eu não sonho mais

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e viola: Otavio Burnier

      Violão: Geraldo Azevedo

      Baixo: Rubão Sabino

      Sanfona: Dominguinhos

      Pandeiro: Jackson do Pandeiro

      Zabumba: Cícero

      Triângulo: João

    • Veio D'água (Luiz Ramalho) Letra

      Um veio d’água na serra

      É o olho d’ água

      Um veio d’água no rosto

      É uma mágoa a correr

       

      Um pingo d’água no rosto

      É uma tristeza

      Um pingo d’água na rosa

      É uma beleza pra se ver

       

      Pode haver angústia no sorriso

      Pode haver silêncio que difama

      Pode estar mentindo quem te jura

      Pode estar fingindo quem te ama

       

      A moeda tem coroa e cara

      O luar também clareia a lama

      Pode haver um céu na água clara

      Pode haver um véu na tua fama

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base: Zé Ramalho e Luiz Ramalho

      Arranjo de cordas: Paulo Machado

      Violão ovation: Geraldo Azevedo

      Viola de 10 cordas: Zé Ramalho

      Sanfona e piano: Sivuca

      Baixo: Jamil Joanes

      Bateria: Elber Bedaque

      Percussão: Robertinho Silva

    • Razão de Paz (Novelli / Márcio Borges) Letra

      Clareou razão de paz

      Talvez porque seja bom

      Laço que a serpente deu

      Homem mais nenhum desfaz

       

      Quem bateu decerto, errou

      Quem levou de graça, viu

      A bandeira do perdão

      Labareda consumiu

       

      De que serve ser doutor

      E voltar palavra atrás?

      Ou dizer que vai fazer

      Sem mostrar que é capaz?

       

      Clareou razão de ser

      Palavra de bom rapaz

      Laço que a serpente deu

      Homem mais nenhum desfaz

       

      Encontrar razão de ser

      Talvez porque tudo bem

      Ou senão talvez porque

      Só se vive uma vez

       

      Cobra d’água, beija-flor

      Estrela ou vegetal

      Seja homem ou o que for

      Ninguém vai ficar pra trás

       

      Encontrar razão de ser

      Talvez porque tudo bem

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base, violão e baixo: Novelli

      Viola de 10 cordas: Geraldo Azevedo

      Violão elétrico: Pato

      Flautas: Danilo Caymmi, Paulo Jobim e Franklin

      Sanfona: Dominguinhos

      Bateria e percussão: Robertinho Silva

      Percussão: Bolão

    • Baile de Máscaras (Pedro Osmar) Letra

      Minha viola andava escondida

      Descontente da vida, atarantada

      Com as recentes notícias

      Que vinham do meu amor

      Com as recentes notícias

      Que vinham do meu amor

       

      É que nos últimos dez anos

      Todas as violas andam escondidas

      Descontentes da vida, atarantadas

      Com as recentes notícias

      Que vem lá do exterior

      Com as recentes notícias

      Que vem lá do exterior

       

      Para encobrir a verdade

      De tamanha tristeza

      Todas as violas puseram máscaras

      Vestiram roupa de mulher

      Calçaram bota de soldado

      E saíram por aí dizendo que era carnaval

      E saíram por aí dizendo que era carnaval

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base: Geraldo Azevedo e Pedro Osmar

      Violão ovation: Geraldo Azevedo

      Viola: Pedro Osmar

      Guitarra: Lulu Santos

      Sax e flauta: Nivaldo Ornellas

      Baixo: Jamil Joanes

      Bateria: Elber Bedaque

    • Filho das Índias (Vinicius Cantuária) Letra

      Irupixuna batiê, ela cantava

      Filho das índias

      Irupixuna batiê, ela dançava

      Filho das índias

       

      Mexiam com as tintas

      Misturavam as cores

      Falavam de amores

       

      Tratavam da planta

      Que cuidava a mente e o corpo

      Seguindo o velho ritual

      Tudo era normal

       

      Marcavam seu tempo

      Através da lua e do sol

      Ôooooooo filho das índias

      Ôooooooo filho das índias

      Ôooooooo filho das índias

      Ôooooooo filho das índias

      Ôooooooo filho das índias

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e guitarra: Vinícius Cantuária

      Piano: Wagner Tiso

      Baixo: Waldecy

      Bateria: Robertinho Silva

      Percussão: Bolão

      Sax: Oberdan

      Piston: Barrosinho

      Trombone: Maciel

      Coro: Lize Bravo, Mônica Schimidt, Cristina, Sheila, Paulo Machado, Geraldo Azevedo, Renato Rocha e Marcelo Falcão

    • Ave de Prata (Zé Ramalho) Letra

      É muito mais do que muito

      Muito mais do que quantos anos todos piorei

      É muito mais do que mata

      Muito mais do que morrem todos pela planta do pé

      É muito mais do que fera

      Mais do que bicho se quiser procriar

      Uma espécie: sementes da água, mistérios da luz

       

      É muito mais do que antes

      Mais do que vinte anos multiplicar

      Dividir a mentira

      Entre cabelos, olhos e furacões

      Inventar objetos

      Pela esfinge quando era mulher

      Ave de prata

      Veneno de fogo

      Vagalume do mar

       

      O mar que se acaba na areia

      Gemidos da terra apoiados no chão

      Entre todos que usam os dentes do arpão

      Apoiados em cada parede pela mão

      Pela mão que criou tantas trevas e luz

       

      E cada coisa perdida

      Perdidamente pode se apaixonar

      Pela última vida

      Poucos amigos hão de te procurar

      Como é o silêncio

      E nesse momento tudo deve calar

      Numa história que venha do povo

      O juízo final

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e violão ovation: Zé Ramalho

      Arranjo de cordas: Paulo Machado

      Viola de 10 cordas: Geraldo Azevedo

      Violão 7 cordas: Dino

      Guitarra portuguesa: Robertinho de Recife

    • Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa) (Cátia de França) Letra

      São quatro jogadores nessa mesa

      Frente a frente para jogar

      São quatro cabras de peia no desafio

      Jogo da bruxa em noite de lua cheia

      São quatro jogadores nessa mesa

      Dando as cartas do jogo sujo da vida

       

      Kukukaya, eu quero isso aqui

      Kukukaya, olha esse cachorro aqui, rêi, rêi

      Kukukaya, eu quero isso aqui, rêi

      Kukukaya, olha esse cachorro aqui

       

      São quatro jogadores nessa mesa

      Frente a frente, sem dar falsa folga a ninguém

      São quatro cabras de peia

      De riso dócil, de rima fácil

      Não vá se enganar, hein meu bem?

       

      Eu tenho dois olhos, eu tenho dois pés

      Dos meus olhos vá pra meus pés

      Dos meus pés

      Pra dentro da terra

      Da terra para a morte

       

      O ovo é redondo, ventre redondo é

      Vem amor, vem com saúde

      Onde eu sou chama, seja você brasa

      Onde eu sou chuva, seja você água

      Onde eu sou chama, seja você brasa

      Onde eu sou chuva, seja você água

       

      Kukukaya, eu quero você aqui, rêi

      Kukukaya, preste atenção em mim, rêi, rêi

      Kukukaya, eu quero você aqui

      Kukukaya, preste atenção em mim

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e violão ovation: Geraldo Azevedo

      Arranjo de cordas: Paulo Machado

      Viola 10 cordas: Zé Ramalho

      Viola: Zé Flávio

      Guitarras: Lulu Santos

      Baixo: Jamil Joanes

      Piano: Paulo Sauer

      Bateria: Elber Bedaque

      Percussão: Robertinho Silva

      Coro: Amelinha, Lize Bravo, Mônica Schimidt, Cristina e Sheila

    • Cartão Postal (David Tygel / Cacaso) Letra

      Eu sou manhoso, eu sou brasileiro

      Finjo que vou, mas não vou

      Minha janela é moldura

      Do luar do sertão à verde mata

      Nos olhos verdes da mulata

      Nos olhos verdes da mulata

       

      Sou brasileiro manhoso e por isso

      Dentro da noite em meu quarto

      Fico cismando na beira de um rio

      Na imensa solidão de latidos de araras

       

      Lívido, lívido

      De medo e de amor

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base: David Tygel e Geraldo Azevedo

      Arranjo de cordas: Francis Hime

      Violão: Geraldo Azevedo

      Violão 7 cordas: Dino

      Bandolim: Joel

      Pandeiro: Jorginho

      Clarinete: Netinho

    • O Dia do Criador (Walter Franco) Letra

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se canta pra poder dançar

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se dança pra poder cantar

       

      Eia céu, olha a lua cheia

      Eia estrela da manhã

      Eia mar, olha o grão de areia

      Eia irmão, olha tua irmã

       

      Chegando lá da ribeira

      Chegando lá da ribeira

      Chegando lá da ribeira

      Chegando lá da ribeira

      Chegando lá da ribeira

       

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se canta pra poder sonhar

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se sonha pra despertar

       

      Eia fogo que te incendeia

      Eia irmã, olha teu irmão

      Eia sol que tudo clareia

      Olha a água que sai do chão

       

      Correndo pra cachoeira

      Correndo pra cachoeira

      Correndo pra cachoeira

      Correndo pra cachoeira

      Correndo pra cachoeira

       

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se cansa pra poder deitar

      A terra é o mesmo lugar

      Onde se deita pra descansar

       

      Eia vento que rodopia

      Eia, eia, meu amor

      Eia, eia, eia poesia

      Olha o dia do criador

       

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

       

      Chegando lá da ribeira

      Correndo pra cachoeira

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

      Entrando na brincadeira

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base e violão: João de Aquino

      Viola: Geraldo Azevedo

      Baixo: Luizão

      Flauta: Waldemar Falcão

      Bateria: Robertinho Silva

      Percussão: Bolão e Boré

      Coro: Mônica Schimidt, Neila, Lucínia e Nádia

    • Bodocongó (Humberto Teixeira / Cícero Nunes) Letra

      Eu fui feliz lá no Bodocongó

      Com meu barquinho de um remo só

      Quando era lua

      Com meu bem remava à toa

      Ai, ai, ai, que coisa boa

      Lá no meu Bodocongó

       

      Bodocongó Bodó Bodocongó

      Meu canário verde, meu curió

      Bodocongó Bodó Bodó

      Bodó Bodocongó

      Campina Grande eu vivo aqui tão só

      Ai, ai

      Campina Grande eu vivo aqui tão só

      FICHA TÉCNICA:

      Arranjo de base: Geraldo Azevedo e Dominguinhos

      Violão ovation: Geraldo Azevedo

      Viola: Zé Ramalho

      Sanfona: Dominguinhos

      Baixo: Novelli

      Zabumba: Borel

      Pandeiro: Zé Gomes

      Triângulo: Zé Leal

      Bateria: Robertinho Silva

sjc-fallback

ELBA RAMALHO VOA MAIS ALTO COM AVE DE PRATA

Elba Ramalho lança este mês seu primeiro LP, Ave de Prata, pela CBS. O nome do disco
– que é título de uma das faixas – não poderia ser mais adequado, pois ele tem tudo
para voar para o primeiro plano do mundo musical brasileiro.

É um elepê alegre, dançante, aberto e tão incendiário quanto o sol da caatinga. Até a
faixa de autoria de Chico Buarque entrou neste clima nordestino. Não sonho mais é
um deslavado baião.

Enfim, Ave de Prata é uma posição de Elba Ramalho, uma escolha musical. Ao
selecionar o repertório, ela voltou as costas para o oceano Atlântico, para o
colonialismo europeu e também para a influência americana. Olhou para o interior do
continente, sentiu apenas o Brasil e a América Latina, no que eles têm de comum e
básico: o balanço, o ritmo, o toque indígena, o clima negro.

A direção musical de Ave de Prata é de Geraldo Azevedo, a produção de Carlos Alberto
Sion. Os autores são todos jovens, inquietos, em permanente busca.

Os músicos – segundo Elba – são os mais incríveis. Sanfona, o mestre Sivuca, ou como
ela diz – Sivuca, o pai da gente – e Dominguinhos, Wagner Tiso, Robertinho de Recife,
Lulu dos Santos, Novelli, Danilo Caymmi, Paulo Jobim, Zé Ramalho, Jamil Jones,
Jackson do Pandeiro, Chico Batera, Sérgio Boré, Oberdan, Barrosinho, Joel do
Bandolim, David Tygel, Nivaldo Ornelas, Roberto Silva, Valdeci, Vinícius Cantuária e
Kátia de França.

Pelo resultado final, e por informações de Elba Ramalho, todos os músicos, assim
como os autores, foram para as gravações com o entusiasmo de quem participa de
uma grande festa. “Além da presença constante de Geraldo Azevedo, pois além de
compositor é o diretor musical, Chico Buarque, Zé Ramalho, Pedro Osmar, enfim,
todos os autores foram às gravações. Fizemos um trabalho com muito amor, muita
alegria, muita união. Era sempre uma grande festa, um encontro imenso”, conclui Elba
Ramalho.

 

CANTORA & ATRIZ OU “CANTRIZ”

Elba Ramalho é da Paraíba, onde começou cantando. Depois de já ter um trabalho
musical, resolveu fazer Economia, Direito, Teatro e Sociologia, paralelo a isso tudo era
atleta da Escola, – “cheguei a ser melhor atleta de handball da Paraíba e integrei a
seleção paraibana”. Veio para o Rio com o Quinteto Violado, para o show “A Feira”, no
teatro Casa Grande e ficou.

“Aqui me desliguei do Quinteto, fiquei no Rio, com pessoas da música e do teatro.
Uma das que me deu mais força foi Carlos Vereza. Mas todos me indicavam Luiz
Mendonça. Estavam certos. Ele era o meu caminho, tinha a ver. Comecei a trabalhar
com ele em Viva o Cordão Encarnado, substituindo a Sonia de Paula e fiquei quatro
anos com seu grupo, anos muito ricos em experiência, em aprendizado, em vivência.
Formamos o grupo Chegança – que resultou em Lampião no Inferno, Canção de Fogo,
A Incrível História de Pedro Bacamarte, remontamos também o Cordão em São Paulo”.

Esses trabalhos valeram a Elba Ramalho fartos elogios da crítica e algumas indicações
para o prêmio Mambembe; a primeira em Dom Quixote de La Mancha (teatro infantil)
e depois em Lampião no Inferno e Viva o Cordão Encarnado.

É importante lembrar que mesmo no teatro, Elba jamais cortou sua ligação com a
música. Sempre cantou nos espetáculos montados por Luiz Mendonça, além de fazer
vocal em discos de compositores diversos. Desses trabalhos de vocal, os mais recentes
estão nos discos de Geraldo Azevedo, Bicho de Sete Cabeças (na canção-título), Kátia
de França, Robertinho de Recife, Zé Ramalho, Amelinha, Alceu Valença e Walter
Franco.

Em 1978, Elba Ramalho trabalhou na Ópera do Malandro. Quando Chico gravou seu
LP, chamou Elba para cantar com Marieta Severo a mesma música que elas
apresentavam na peça, O meu amor. Quando essa faixa era uma das mais tocadas nas
rádios, a Censura proibiu sua execução pública. Nesse ano, Elba mais uma vez foi
indicada para o Prêmio Mambembe como melhor atriz.

Ainda em 1978, EIba Ramalho aproveitava as folgas de segunda-feira para fazer o
espetáculo Teatro do Ornitorrinco Canta Brecht e Weill, no Tablado. Paralelo a isso
fazia, nos fins de semana, a peça de Sérgio Bardotti, adaptada por Chico Buarque, Os
Saltimbancos.

Seu mais recente trabalho, no palco, foi na peça de Benjamin Santos, O fado e a sina
de Mateus e Catirina
, substituindo Tânia Alves.

O fato de gravar o elepê – diz Elba Ramalho – não significa nenhuma troca, nem
abandono do palco. O trabalho de atriz não se opõe ao de cantora, eles são até muito
harmoniosos. A experiência de atriz me ajuda muito como cantora e vice-versa. O Tárik
brincou comigo, disse que sou uma “cantriz”. Acredito que posso fazer os dois, pois
sou muito voltada para o meu trabalho, não penso em outra coisa. Tenho vontade é de
criar, de fazer muitas coisas, estou em pleno processo de ebulição, querendo criar,
mostrar, buscar, reformular, enfim, quero sempre encontrar meu ofício, seja no
momento de cantar, ou trabalhar como atriz, um impulso novo, uma coisa vital,
orgânica, dinâmica.

Acredito que meu disco tenha essa determinação. Ele é muito pra cima, pra fora. Ele
tem uma chama do Nordeste muito forte, tudo aquilo que absorvi de meu povo, de
minha terra, misturado com o que adquiri no Rio.

Eu procurei me manter fiel à forma de cantar de minha gente, aquele grito, muito de
carpideira, de lavadeira, de pastorinha, uma coisa pura, muito real. Esse disco está
dentro de uma vitalidade nova na música brasileira. Há uma geração ótima de pessoas
com um trabalho muito sério e ainda não divulgado. Essas pessoas precisam mostrar a
qualidade de seu trabalho, por isso que gravei suas músicas. Essa é uma atitude muito
coerente e minha. Os nomes famosos, como Gil, Caetano, já conquistaram um espaço.
Tenho que gravar os novos, como eu, os que estão no começo. Esses autores que
gravei merecem um espaço, são muito fortes – com um trabalho incrível. Tenho
consciência que essa safra nova e vibrante é importante para a música brasileira. Estou
com eles, onde eu for, eles irão...

 

Ilvaneri Penteado


@parent